[Quem Conta Um Conto...] A Garota na Colina - Derick Eduardo


Havia uma jovem garota que morava numa cabana no topo de uma solitária colina, tão solitária quanto à própria garota era. Não havia ninguém lá ao nascer do sol, e assim era enquanto a noite quieta permanecia. Tinha segredos sem ninguém para contar e todas as noites ela sentava na macia grama de seu quintal, seus longos cabelos ruivos ondulando ao vento, e se punha a contemplar a imensidão do céu, os olhos azuis refletindo o brilho das estrelas lá no alto, desejando estar em algum outro lugar além daquele infinito de pequenas luzes.

Nada sabia do seu passado, se é que tinha um, nem o que esperar do futuro, sua única lembrança era de ter despertado no topo daquela colina, sozinha e com frio. Com o tempo aprendera a viver (ou será que já sabia?) com os recursos da floresta que se estendia no amplo vale ao redor da colina: havia construído uma cabana no exato lugar em que dera conta de si pela primeira vez, passou a cultivar plantas da floresta e a pescar no pequeno rio que a cruzava.

E assim vivera por longo tempo, até que em uma noite, apenas uma noite comum, enquanto observava o céu, simplesmente tentando entender, viu uma das estrelas subitamente se aproximar, à medida que seu coração se acelerava, e cair em um ponto na floresta lá embaixo. Nada parecido havia acontecido até então, imediatamente se pôs a descer eufórica até a floresta na direção em que achava que a estrela havia caído, até que, ofegante, chegou a uma enorme clareira. No centro, havia um garoto parado, apenas um garoto comum, mas ele estava olhando para o céu.

Seus cabelos eram prateados como a enorme estrela que de tempos em tempos aparecia no céu com variadas formas – e que nessa noite exibia uma forma esférica. Ao notá-la ali, o observando admirada, lentamente girou a cabeça em sua direção e ela pôde ver que tinha os olhos iguais aos seus, brilhantes de um azul profundo. O garoto perguntou se ela gostaria de se juntar a ele e ir além, bem longe. Subitamente, ela teve a sensação de que havia encontrado exatamente o que estava procurando. Ele estendeu a mão e continuou "Venha, deixe eu lhe mostrar algo. Venha, seus sonhos estão bem aqui na palma da minha mão". E quando ele falava, ele falava palavras comuns, apesar de não parecer, porque ela sentia o que não tinha sentido antes e seria capaz de jurar que aquelas palavras podiam curar. "Por favor, pegue minha mão, veja o que eu vejo, vamos tocar as estrelas!” – insistia ele – “O tempo não irá correr. O tempo não passará. Você consegue sentir?".

E ela sentia. Caminhou até ele e, sem hesitar, pegou a mão estendida daquele estranho e enquanto olhava entre aqueles olhos, a visão dele se tornou a dela e ela percebeu que ele não era nenhum estranho, porque havia acreditado nele o tempo todo.


Derick Eduardo
Já passo dos vinte anos, sou chato como se tivesse sessenta, mas às vezes acho que ainda não saí dos dezesseis. Estou no último ano da faculdade de computação e a única certeza que levo dessa vida é que se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda, amanhã velho será, velho será, velho será. Contato para shows: 190.

Formada em administração de empresas, tem fascinação por aprender idiomas (nem sempre é bem sucedida, mas vale a tentativa). É apaixonada por livros, fez muitos amigos por causa deles, e os usa para conhecer novos lugares e realidades. É também uma ARMY orgulhosa.

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