Título:Anardeus. No Calor da DestruiçãoAutora:Walter TiernoEditora:Giz EditorialOnde Comprar:Saraiva | FNAC | SubmarinoAnardeus nasce feio, cresce ignorado e se torna um adulto desagradável. Sente muito frio, o tempo todo, e só desfruta o conforto do calor quando testemunha tragédias e horrores. Ele odeia tudo e todos, menos sua irmã gêmea, Isabel, sua antítese: linda, amável e cheia de calor.Anardeus, com a sua personalidade detestável, é um anti-herói incomum e, por isso mesmo, tão interessante. O mundo não deseja Anardeus. Anardeus não deseja o mundo. Mas terão que viver juntos até o final apocalíptico e perturbador.Anardeus, no calor da destruição tem como cenário São Paulo e seus personagens cínicos, loucos, egoístas. Um romance sem rótulos ou lugar-comum, para ler e sentir tudo - menos indiferença.
Silêncio e estupor: foi a reação desta que vos escreve assim que conclui esse livro. Constatei nesse dia que o silêncio é tão inquietante quanto à leitura de Anardeus. Depois de uns 10 segundos, minha mente voltou a trabalhar no 220 volts.
Essa resenha devia estar escrita há semanas, mas eu simplesmente não sabia como colocar para fora o que é esse livro. Walter Tierno escreveu uma obra insanamente diferente que dá espaço a várias analogias e perspectivas e estou curiosa para saber mais sobre as outras teorias.
Anardeus representa tudo o que há de ruim. Ele é feio, desagradável e ninguém que o conhece jamais se sentiu realmente à vontade em sua presença.
Apenas Isabel.
Isabel que é sua irmã gêmea. Isabel que é o inverso de Anardeus. Ela representa tudo o que há de bom. Ela é bela, agradável e todos morrem de amores por ela. Isabel exerce uma atração irresistível nas pessoas.
Anardeus vive com frio. Isabel vive com calor.
“O homem à minha frente é uma caricatura viva. Só o havia visto pela minha objetiva. Sem esse filtro, a feiura incomoda bastante. Imagino se o mesmo acontece com a irmã, mas de forma invertida. Pela câmera, uma delícia. Pessoalmente, impossível não pedir em casamento.
Infelizmente, não foi ela quem marcou o encontro. Foi este homem feio. (...) Lá fora está um sol torturante e ele nem sua, mesmo enterrado sob três camadas de roupas pesadas... os olhos são o que mais perturba. Difícil não sentir arrepios ao fita-los. Quando diz que seu olhar é invasivo, sabe o que está falando. Evito contato direto. É como ser despido além da pele. Por várias vezes, tenho a impressão que ele consegue ouvir o que penso.”
O leitor é apresentado a esse contexto com uma aleatoriedade muito bem planejada pois o enredo não segue um padrão normal. São fragmentos atemporais que vislumbramos da infância até a vida adulta de Anardeus que nos dá essa perspectiva tão bem definida de sua personalidade e de Isabel. O curioso é que mesmo com esse tom fantástico, o enredo se passa em meio ao cotidiano.
Anardeus é casado, tem sua casa e sua vidinha medíocre e seu único companheiro inseparável é o frio. Ele só sente um calor confortável quando destruições completamente sobrenaturais começam a acontecer pela cidade. Um calor que o transforma em um deus.
“Eu sinto culpa. Não a culpa paralisante, que tortura. Sinto a culpa excitante, criminosa, implácavel.”
O texto de “Anardeus. No calor da destruição” é enxuto e pragmático. É um livro curto, mas tão denso que me senti meio transtornada. A narrativa é alternada entre Anardeus, Isabel e um terceiro personagem bastante singular, o fotógrafo.
A narrativa é simples, mas dura e direta que contém palavrões e algumas cenas (todas) fortes. “Anardeus. No calor da destruição” é perturbador em seu pragmatismo e, confesso, o livro terminou tão rápido que queria mais detalhes, queria um pouco mais de esperança. Mas Anardeus, tal qual a vida, é o que é.
O trabalho da editora Giz foi impecável. O livro é muito bonito esteticamente com ilustrações incríveis do próprio autor (vide a capa). Walter Tierno também escreveu “Cira e o Velho” e em breve vocês terão resenha sobre ele também aqui no blog. Recentemente, o autor assinou com a Verus então logo teremos mais obras dele circulando por aí.
Enquanto isso, conheçam suas obras já lançadas pela Giz e se apropriem de seus livros. “Anardeus. No calor da destruição” me despertou um sentimento bem intenso; só me resta descobrir se isso é bom ou ruim.
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