Eu Li: Ninguém Nasce Herói - Eric Novello

Título:
Ninguém nasce herói 

Autor:
Eric Novello 

Editora:
Seguinte

Ano:
2017

Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer. Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.

Hoje, dia 07 de julho, é o lançamento oficial de “Ninguém nasce herói”, do autor nacional de Eric Novello. O livro vai retratar um mundo distopico onde o Brasil é governado por um presidente fundamentalista. Eric, que tem um histórico de escrever fantasias, como “Neon Azul” e “Exorcismos, Amores e uma Dose de Blues”, vai nos apresentar um livro com teor um pouco mais assustador, pois, atua demais no campo do real.

Quero falar sobre os amigos que sumiram do mapa. Colegas de turma que um dia estavam lá, estudando, conversando e bebendo conosco, e no outro desapareceram. Vontades que eu calo, simplesmente. Apesar da cautela, me recuso a deixar o medo germinar.”

Nossos protagonistas, no entanto, nos enchem de esperança. Chuvisco e os amigos distribuem livros censurados na praça Rooservelt, em São Paulo, para qualquer um que estiver disposto a estender a mão. Eles são a resistência. Mas também há outro grupo que faz frente ao governo do Escolhido, chamado Santa Muerte, onde seus integrantes expõem as violências do totalitarismo com uma mídia independente; tudo com muita sutileza, pois a censura atua com força neste universo. 

As coisas ficam mais graves quando Chuvisco encontra uma pessoa sendo agredida pela Guarda Branca, um grupo aliado do governo que usa de violência contra qualquer oposição. Chuvisco então entra em ação, com sua armadura e seu sensor de calor, pronto para o ataque aos monstros de aço da guarda branca. 
O nosso protagonista tem catarses criativas. Ou seja, eventualmente Chuvisco confunde a realidade com um mundo de fantasia que existe em sua cabeça. Em suas terapias ele aprendeu a não sair do controle mas as circunstancias atuais em que está vivendo pede uma fuga da realidade. Adorei a forma que o autor trabalha as catarses na história. 
A partir deste ataque, Chuvisco se envolverá em muitos conflitos que envolvem a Guarda Branca e seus amigos vão fazer de tudo para protege-lo da melhor forma possível. 

“Ninguém nasce herói” é um livro incrível e relevante. Mesmo que desperte aquele sentimento agridoce com a temática, o leitor respira feliz em como a amizade é retratada na história. Chuvisco, Amanda, Cael, Gabi, Pedro e Dudu são divertidos, inteligentes, plurais e resistentes. A amizade deste grupo é o sentimento mais importante do livro e vai permear praticamente em todas as páginas. 

Paralelo a isso, há a tensão constante que o governo do Escolhido atinge a figura dos nossos queridos personagens. Eles são jovens, alguns LGBTs, portanto, não há lugar para eles em um Brasil fundamentalista religioso. É interessante que o autor consta que outras religiões, que não seguissem dogmas dO Escolhido, também foram severamente censuradas. É desesperador imaginar que uma realidade desse tipo possa assombrar o país. 

A leitura de “Ninguém nasce herói” me remeteu à “O conto da Aia” que li recentemente. Na história de Margaret Atwood, deu-se um regime totalitário com sutileza e rapidez, onde também se excluía todo e qualquer tipo de pessoa que não seguisse as normas bíblicas. Mulheres, LGBTs e resistentes eram enforcados em muros e a discussão da autora se aprofundou nas mulheres que serviam de receptáculos para esposas de homens poderosos. Eric Novello também trabalha o totalitarismo religioso na sociedade porém o autor se aprofunda na resistência que as pessoas podem fazer frente a um poder que as exclui e as criminaliza. Aponta como a amizade pode ajudar nos manter sãos e nos salvar, literalmente. 

Como supracitado, o livro tem um teor agridoce pois em quase todas as lutas há perdas e o autor não fugiu desse realismo cru. “Ninguém nasce herói” nos faz repensar nosso lugar no mundo, olhar mais atentamente a nossa própria realidade e a questionar se o futuro, mesmo aqui no Brasil, é realmente um lugar seguro. Um livro que veio para nos incomodar em nossa zona de conforto e, quem sabe, nos motivar a trabalhar para termos uma expectativa melhor. 

A verdade é que ninguém nasce herói.
Mas isso não nos impede de salvar o mundo de vez enquando.” 

A narrativa de Eric Novello é bem fluída e acessível e o enredo bem desenvolvido. Os personagens são cativantes e apaixonantes, o que pode ser bom ou ruim para o coração, dependendo da perspectiva. Recebi a prova antecipada (inclusive, obrigada novamente, Eric e Editora Seguinte), portanto, encontrei alguns errinhos pois livro ainda estava em fase de revisão. Mas a partir de hoje "Ninguém nasce herói" já está nas livrarias e deve estar 100% maravilhoso para vocês conhecerem.  Aproveitem!  

Leiam! 




Assistente social apaixonada por livros. Militante da transformação social através da literatura.

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